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Língua e identidade cultural

21 de fevereiro: Dia Internacional da Língua Materna

Histórias em Destaque
  • Língua: pensamento e expressão
  • 7.139 línguas faladas ao redor do mundo
  • 40% das línguas ameaçadas de extinção
  • 750 milhões de pessoas analfabetas

A língua é a base de toda comunicação. Através dela é possível estabelecer interação entre as pessoas, seja através da fala ou da escrita. É por meio dela também que organizamos nossos pensamentos e nos expressamos.

No dia 21 de fevereiro é comemorado o Dia Internacional da Língua Materna, data decretada pela UNESCO e reconhecida formalmente pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas. Foi instituída em 17 de novembro de 1999 e é celebrada desde 2000 com o objetivo de promover a diversidade cultural e o multilinguismo.

Mas, você sabe quantas línguas maternas há no mundo? Talvez, ao fazer uma associação com a quantidade de países que existe, você tenha uma possível resposta… Errada.

Línguas do mundo

O Ethnologue, centro de pesquisa para inteligência linguística, mapeou em 2021, na 24ª edição de sua pesquisa, 7.139 línguas faladas ao redor do mundo. Lamentavelmente, 40% delas estão ameaçadas de extinção, com menos de mil falantes.

Ainda de acordo com o levantamento, apenas 23 línguas representam mais da metade da população mundial. Sem surpresas, o inglês é a língua mais falada no mundo quando levado em consideração tanto falantes nativos quanto não nativos. Esse dado deixa evidente a influência do império britânico no passado e a atual disseminação da cultura norte-americana, além de ratificar o inglês como língua universal. O mandarim, entretanto, tem o maior número de falantes quando considerado apenas pessoas nativas, em razão da significativa população chinesa. O português é a nona língua do ranking, falado por 252 milhões de pessoas. É também língua oficial de nove países: Brasil, Portugal, Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Cabo Verde e Timor Leste.

Uma outra abordagem interessante feita pela jornalista Amy Gois, do portal Maiores e Melhores, analisa para quantos países você pode viajar de acordo com o idioma que você fala. Da mesma forma, o inglês lidera a lista novamente, sendo falado oficialmente por 59 nações. O francês, o árabe e o espanhol aparecem na sequência, sendo falados respectivamente por 29, 26 e 20 países.

Uma dura realidade: analfabetismo e línguas ameaçadas de extinção

Apesar de tanta diversidade linguística, ainda é de chamar a atenção a quantidade de pessoas iletradas no mundo. De acordo com dados da CIA, de fevereiro de 2021 e divulgados através da publicação The World Factbook, 13,7% da população adulta não é alfabetizada. Isso significa que 750 milhões de pessoas acima de 15 anos de idade não sabem ler e escrever, sendo que o sul da Ásia e a África subsaariana concentram mais de três quartos dessas pessoas.

É importante destacar também que o idioma é uma forma de expressão da identidade cultural de um povo e fator fundamental para a transmissão de tradições através das gerações. Logo, quando uma língua morre, perde-se todo o patrimônio cultural que ela abrange. A morte de uma língua enterra junto formas de pensar e de interagir únicas, é como a extinção de uma espécie.

Para tentar combater esse processo existem projetos que documentam idiomas e os salvam da extinção. O Living Tongues Institute for Endangered Languages, por exemplo, vem trabalhando desde 2005 na preservação de línguas ao redor do mundo e já produziu mais de 120 dicionários online.

Dois lados de uma mesma moeda: a globalização

Se por um lado, a globalização é responsável pelo abandono de muitos idiomas, não podemos negar que ela também contribui para o multilinguismo, fator essencial para que haja interação entre diferentes povos. Sendo assim, também podemos afirmar que o multilinguismo promove a inclusão social, e por isso é incentivado em campanhas de organizações como ONU e UNESCO.

Mas, antes de abordarmos a questão do multilinguismo e seus benefícios, precisamos falar sobre a interação que existe em meio a tanta diversidade.

Relação entre as línguas

É muito interessante compreender por que é mais fácil entender uma língua em vez de outra. Ou ainda, por que após aprender um idioma, é mais fácil aprender certos outros.

Em sua maioria, as línguas descendem de dois grandes grupos: indo-europeu e urálico. Analisando o infográfico que a artista Minna Sundberg criou é possível visualizar como as línguas estão conectadas.

Árvore genealógica de línguas

Nem todos as línguas estão mapeadas, como a própria autora explica, até porque seria consideravelmente desafiador criar uma árvore com mais de sete mil ramos. O objetivo principal da ilustradora, que é também autora de um webcomic que apresenta elementos da mitologia nórdica, era justamente mostrar como seus personagens conseguiam se entender mesmo falando línguas diferentes. Em resumo, ela queria mostrar como o sueco, o dinamarquês, o norueguês e o islandês estão estreitamente relacionados e como o finlandês vem de uma origem completamente distinta.

É curioso ver como as línguas se relacionam, como por exemplo, o grupo indo-iraniano, que dá origem à diversidade linguística presente na Índia. No ramo europeu, as línguas eslavas também possuem uma interessante conectividade. Da mesma forma podemos verificar a separação entre as línguas românicas, de onde origina o português, e germânicas, que dão origem ao inglês e ao alemão.

Benefícios de falar outra língua

Diversas pesquisas já concluíram que pessoas que falam uma segunda língua tendem a ter resultados melhores em tarefas que exigem atenção e memória. Na mesma linha, outras já apontaram que o estudo de um segundo idioma atrasa em até cinco anos a manifestação do Alzheimer. Também há quem diga que as crianças bilíngues se confundem com menos facilidade e se adaptam mais rápido às mudanças.

Estas afirmações vêm de estudos que analisam o comportamento do cérebro em pessoas bilíngues. Indivíduos que transitam entre dois sistemas de linguagem ao longo da vida exercitam seus cérebros de forma diferente e acabam desenvolvendo uma maior capacidade de concentração.

Língua diferente, comportamento diferente

Outro fator analisado é como a língua influencia o modo como uma pessoa pensa. Em 2015, um grupo de pesquisadores publicou um artigo sobre o tema na revista Psychological Science. O estudo aponta que falantes de inglês e de alemão colocam ênfases diferentes ao analisar uma situação.

Após alguns testes, a pesquisa concluiu que falantes de alemão dão mais foco ao resultado de uma ação, enquanto que falantes de inglês prestam mais atenção à ação em si. Em outras palavras, falantes de alemão são concretos ao especificar começo, meio e fim, enquanto falantes de inglês focam mais nos meios.

Para exemplificar, um falante de alemão descreveria uma cena como: “Uma mulher sai do shopping e vai até seu carro“. Por outro lado, um falante de inglês descreveria a mesma cena como: “Uma mulher está caminhando”.

De acordo com os pesquisadores, essa diferença de percepção é resultado dos recursos gramaticais presentes em cada língua. Enquanto na língua inglesa utiliza-se o “ing” para descrever uma ação em curso, na língua alemã este recurso não existe. E segundo eles, isso influencia o modo como os indivíduos se comportam.

Falantes bilíngues alternavam entre as duas perspectivas de acordo com a língua que estava mais ativa em suas mentes ou conforme a língua que era utilizada na apresentação dos exercícios. Com isso concluiu-se que os bilíngues podem extrair o melhor de ambas as visões de mundo, tornando-os mais flexíveis.

Assim como a prática de exercício físico traz benefícios ao corpo, a prática de idiomas traz benefícios ao cérebro. Pesquisadores já não se questionam mais se falantes de diferentes línguas têm mentes diferentes, mas sim se duas mentes diferentes podem existir dentro de uma mesma pessoa. Incrível, não ?!

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Renata Jacomolski

Turismóloga, administradora e aspirante a jornalista de viagens. Apaixonada por conhecer novas culturas e aprender novos idiomas. Genealogista por paixão e estudiosa das viagens enquanto movimentos migratórios. Defensora incansável da vida digital através do trabalho remoto e do estudo online. Brasileira radicada na Suécia.

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